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Assinado Ela

Tiê ao vivo na Modern Sound - Rio de Janeiro, 13/07/09

por Rodrigo Ortega

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"Daqui a pouco vamos passar nas mesas servindo taças de espumante. Mas não bebam agora. Na hora certa, vamos avisar, entendido?"

Entendido.

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Depois do ótimo e abarrotado show da cantora e ex-modelo paulista Tiê no Cinematheque em junho, ter a chance de vê-la cantar de novo no Rio em um café em uma insuspeita segunda-feira era promessa de uma noite boa. O pequeno espaço para shows da loja Modern Sound é um lugar bem apropriado para a voz e os acordes dela e do seu companheiro de palco e estúdio Plínio Profeta.

Não há banda, não há cenário, não há efeitos, não há personagens. Sobram só duas coisas: a voz e as composições. "Já faz um tempo que eu queria te escrever um som / passado o passado acho que eu mesma esqueci o tom". Essa foi primeira frase da primeira música do show, "Assinado eu". A Primeira Pessoa conjuga todo o trabalho da Tiê.



"Passarinho" é o seu cartão de visitas, o hino nacional do país dela mesma. "Eu que tenho um nome diferente / Já quis ser Maria ". O tom confessional sem melodrama nos desconcerta e aproxima dela. Acostumados com a música cada vez mais teatral de hoje, tomamos uma rasteira e ficamos caídos por ela.

Antes de "Stranger but mine", ela conta que a música era sua carta na manga nos recentes shows que fez na Europa e nos EUA, já que era a única letra que o público entenderia. No entanto, na hora dos shows o público ria da sua pronúncia macarrônica e pareceu gostar mais das músicas em portugês.

Em "Aula de francês", ela explica que os versos vieram exatamente de onde o título indica, e que essas são as únicas palavras que ela sabe da língua. É, primeiro, uma rara mostra de humildade no meio do universo de pedantismo que nos rodeia. Segundo, uma maneira simpática de de ensinar que para ela a voz e a melodia vêm antes das palavras.



O show, assim como as músicas, foi curto: apenas oito músicas, das dez que estão no primeiro disco dela, Sweet Jardim. Antes de terminar ela ainda cantou dois covers, que parecem estar no repertório só para provar seu próprio ponto: ela se sente muito mais à vontade com composições próprias do que alheias. "Se enamora", do Balão Mágico, e "I'm too sexy", do Right Said Fred, podem ser ouvidas como exercícios de interpretação no estilo bem pessoal da cantora ou como piadas. Mas ironia não combina muito com a Tiê.

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"É com muito prazer que eu passo essa caneta para a Tiê assinar o contrato com a Warner Music. Uma caneta que passou pelas mãos de Milton Nascimento e Gilberto Gil. Aliás, quando eu morrer, essa caneta vai ter que ir para o Museu da Imagem e do Som. Podem fazer o brinde agora.".

A supresa do executivo da gravadora, antes de começar o show, foi uma daquelas situações de vergonha alheia em estado bruto. O brinde ensaiado, a caneta dos medalhões e a publicidade do contrato privado seriam ridículos para qualquer artista, ainda mais para a do show aí de cima.

Depois que o novo chefe se gabou da caneta e comandou o brinde, Tiê fez uma piadinha ("Espera aí, deixa eu ler primeiro"), deu o sorriso necessário e começou logo o show. Não deve ser todo dia que se vê uma assinatura de contrato em que a gravadora está muito mais deslumbrada que o artista.

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