Overdose Canta, dança dirige e representa Atores que viraram diretores por Renato Silveira* receite essa matéria para um amigo
Insatisfação com a carreira? Vocação descoberta? Crise de meia-idade? A lista de atores que foram para trás da câmera e se tornaram diretores é imensa. Ed Harris, que lançou no último fim-de-semana o faroeste “Appaloosa – Uma Cidade Sem Leiâ€, é um dos que realizou uma bem-sucedida transição: estreou como cineasta com a cinebiografia “Pollock†que, assim como seu segundo longa, recebeu boas crÃticas. Em ambos, Harris está também no elenco, a exemplo de vários colegas.
Relembremos, então, alguns casos notórios:
Os contemporâneos
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Fotos: Divulgação
Dos atores que assumiram o timão do navio, alguns praticamente deixaram de atuar nos últimos anos para se dedicarem ao novo ofÃcio. Mel Gibson é um que não dá as caras desde 2003, quando foi visto em “Crimes de um Detetive†ao lado de Robert Downey Jr. Gibson estreou como diretor em 1993, com “O Homem Sem Faceâ€, repetindo a dose dois anos depois com o premiado “Coração Valenteâ€. Apenas nesses dois filmes Gibson atuou e dirigiu ao mesmo tempo. Em seu retorno à direção, em 2004, com “A Paixão de Cristoâ€, e depois em 2006, com “Apocalyptoâ€, ele preferiu se concentrar somente em uma das funções.
 Gibson fala mais alto.
Jon Favreau, que está na moda atualmente graças ao seu “Homem de Ferroâ€, é outro que praticamente deixou de ser ator desde 2003, quando lançou a comédia natalina “Um Duende em Nova Yorkâ€. Sua estréia como diretor aconteceu antes, em 2001, com “Um Crime Desorganizadoâ€. E se de 1992 até então ele havia aparecido em 18 filmes, daà em diante esse número foi reduzido pela metade. Favreau também dirigiu a aventura espacial “Zathuraâ€, em 2005.
Já outros atores têm conseguido equilibrar a carreira, dirigindo em intervalos e aceitando papéis com a habitual freqüência. George Clooney já está em seu terceiro longa como diretor em seis anos e nem por isso deixou de atuar. Pelo contrário: continua mais prolÃfico do que nunca. São dele os elogiados “Confissões de uma Mente Perigosa†(2002), “Boa Noite e Boa Sorte†(2005) e “O Amor Não Tem Regras†(2008) – este último, não tão bem recebido quanto os anteriores.
Sean Penn também é um ator de alta produtividade e que vem construindo uma filmografia consistente na direção. Estreou em 1991, com “Unidos Pelo Sangueâ€, seguiu em 1995 com “Acerto Finalâ€, retornou em 2001 com “A Promessa†e, no ano passado, realizou o belÃssimo “Na Natureza Selvagemâ€.
 Penn: dirigir é botar a mão na massa câmera.
Do Reino Unido, temos Kenneth Branagh. Seu primeiro filme como diretor foi “Henrique V†(1989), realizado pouco depois de sua estréia como ator de cinema. Daà em diante, ele soube conciliar as duas funções e fez nada menos que 11 filmes, entre os quais se destacam “Frankenstein de Mary Shelley†(1994) e as adaptações de Shakespeare “Muito Barulho Por Nada†(1993), “Hamlet†(1996) e “As You Like It†(2006) – ainda inédita no Brasil, assim como “The Magic Fluteâ€, lançado no mesmo ano na Europa. O último que ele dirigiu foi “Um Jogo de Vida ou Morteâ€, já disponÃvel em DVD no Brasil. E a próxima missão de Branagh provavelmente será a mais curiosa de sua carreira: levar à s telas o super-herói Thor – O Deus do Trovão, da Marvel.
Podemos citar ainda Kevin Costner (“Dança Com Lobos†– 1990, “O Mensageiro†– 1997, “Pacto de Justiça†– 2003), Ben Stiller (“Caindo na Real†– 1994, “O Pentelho†– 1996, “Zoolander†– 2001 e “Trovão Tropical†– 2008), Denzel Washington (“Voltando a Viver†– 2002 e “The Great Debaters†– 2007) ou ainda o sazonal Robert De Niro (“Desafio no Bronx†– 1993 e “O Bom Pastor†– 2006). Aliás, De Niro nos leva a uma outra lista...
Os veteranos
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Fotos: Divulgação
Alguns atores com muita estrada também se destacam como diretores. Atualmente, o primeiro nome que vem à cabeça é o de Clint Eastwood – e não poderia deixar de ser diferente. Já tendo conquistado o status de Ãcone do cinema americano, Eastwood cogita deixar de atuar (há quem diga que seu mais recente filme, “Gran Torinoâ€, é o último em que ele será visto num papel principal). Porém, deixar de dirigir não está em seus planos. Na verdade, com o passar do tempo, ele parece cada vez mais animado: basta lembrar que nos últimos cinco anos foram seis filmes, sendo que em 2006 e 2008 ele realizou dois praticamente ao mesmo tempo (“A Conquista da Honra†+ “Cartas de Iwo Jima†e “A Troca†+ “Gran Torinoâ€).
 Seu vô tá pescando? Jogando damas? Eastwood está ganhando Oscar.
Já outros veteranos de Hollywood que se arriscaram na direção não mantiveram o mesmo ritmo. É o caso de Robert Redford, que estreou bem com “Gente Como a Gente†(1980), ganhando inclusive o Oscar, mas comandou somente mais seis filmes até o ano passado, quando lançou “Leões e Cordeirosâ€.
Jack Nicholson parou no meio do caminho. Em 1963, dirigiu, ao lado de Roger Corman e Francis Ford Coppola, o filme B “Sombras do Terrorâ€. Nos anos 70 foram mais dois: “Drive, He Said†(1971) e “Com a Corda no Pescoço†(1978). Por fim, em 1990, esteve a frente de “A Chave do Enigma†para nunca mais voltar à cadeira de diretor.
Warren Beatty, por sua vez, parece ter se aposentado, embora ele diga o contrário. Sem atuar desde 2001, quando fez “Ricos, Bonitos e Infiéisâ€, e sem dirigir desde 1998, quando lançou “Bulworth – Politicamente Incorretoâ€, há quem diga que Beatty tem se concentrado em seu ativismo polÃtico e que planeja se candidatar à presidência dos Estados Unidos pelo partido democrata. Mas agora que Barack Obama foi eleito, o foco de Beatty talvez volte ao cinema. Ou será que a chance de tirar Arnold Schwarzenegger do governo da Califórnia ainda bate mais forte? Seja como for, os cinéfilos continuam na esperança de que o diretor de “O Céu Pode Esperar†(1978), “Reds†(1981) e “Dick Tracy†(1990), um dia volte a oferecer mais um ótimo filme.
 Lee Jones enxerga a morte no ótimo Três enterros.
O mesmo pode ser dito de Anthony Hopkins (que adaptou Checov em “Augustâ€, de 1996, e depois fez o excêntrico “Um Sonho Dentro de Um Sonhoâ€, em 2007). E de Tommy Lee Jones, que realizou o magnÃfico “Três Enterros†em 2005, depois de estrear na direção dez anos antes com o telefilme “Um Longo Caminhoâ€.
E só para lembrar, dois atores-diretores que já não estão mais entre nós, mas que merecem ser visitados e revisitados. Charles Laughton (“O Mensageiro do Diaboâ€) e, claro, John Huston (“O Falcão Maltêsâ€, “O Tesouro de Sierra Madreâ€, “Uma Aventura na Ãfricaâ€, “A Glória de um Covardeâ€, entre tantos outros).
Só fizeram um – até agora
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Fotos: Divulgação
Para encerrar essa retrospectiva, vale destacar alguns atores que realizaram apenas um filme e deixaram vontade de vermos mais do que eles são capazes. Ben Affleck e seu “Medo da Verdade†(2007) e Sarah Polley com “Longe Dela†(também 2007) são dois ótimos exemplos. Andy Garcia e “Cidade Perdida†(2005), Edward Norton e “Tenha Fé†(2000)... Bem que eles poderiam tentar de novo. E o que dizer de Liev Schreiber com o ótimo “Uma Vida Iluminada†(2005)? Está aà um ator que se saiu muito melhor atrás da câmera uma única vez do que em tantas outras na frente dela.
 Sem pose clichê, Matheus, por favor. Conseguimos evitá-la até agora.
No Brasil, tivemos neste ano Selton Mello, com “Feliz Natalâ€, e Matheus Nachtergaele, com “A Festa da Menina Mortaâ€. Sem falar nos documentários de PatrÃcia Pillar (“Waldick, Sempre no meu Coraçãoâ€) e Malu Mader (“Contratempoâ€).
Muita sorte aos estreantes. Que eles sigam os passos bem dados por tantos outros atores. Mas caso algum deslize aconteça, não vamos martirizá-los. Afinal, nomes consagrados como Kevin Spacey (“Uma Vida Sem Limitesâ€), Nicolas Cage (“Sonny, O Amanteâ€), Eddie Murphy (“Os Donos da Noite†– não confundir com o policial recente de James Gray!) e Danny DeVito (“Morra Smoochy, Morraâ€) também tiveram o direito de errar.
* Renato Silveira é editor do Cinematório – www.cinematorio.com.br
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