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Eu sou idiota, eu assistia Arquivo X

A série passada a limpo

por Thiago Vetromille

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Se você assistiu televisão entre 1993 e 2002, em algum momento ouviu falar de Arquivo X. 201 episódios transformaram essa série sobre uma divisão do FBI no segundo maior “culto†a um programa de TV dos Estados Unidos. Mas será que ela era, realmente, a última Coca-cola gelada do deserto?

Para quem esteve em outro planeta durante aqueles nove anos, esse é um breve resumo de Arquivo X segundo o criador da série, Chris Carter: agentes do FBI investigando atividade paranormal e extraterrestre nos Estados Unidos. Simples, direto, fácil de entender como uma palavra soletrada.


Dana encontra George Bush Jr.

Dana Scully (Gillian Anderson) era a médica-legista cética destinada a trabalhar com paranóico de carteirinha Fox Mulder (David Duchovny), o homem que acreditava. Nem a emissora dona de Arquivo X, a Fox, botava fé que o projeto daria certo. Mas algo aconteceu quando Chris Carter misturou alienígenas, conspiração e esquisitos ocasionais numa medida quase perfeita. Estava no ar o programa que criou parâmetros e abriu caminho para um novo estilo na televisão americana. Ou seja, agradeça a Carter por Lost e Heroes.

Os episódios de Arquivo X eram classificados pelos produtores em dois tipos: os mitológicos, que contribuíam diretamente para a história principal revelando algo sobre a conspiração do governo e a existência dos alienígenas; e os episódios “Monstro da semana†quando nossos queridos agentes investigavam alguma criatura, espírito, máquina, ou coisa do tipo, sem contribuição para o mistério-chave. Aqui, agradeça ao criador dos X-Files por abrir espaço para Smallville.

Chris Carter não parece ser um cara burro. Ele sabe que os americanos tendem à paranóia e soube usar isso. Com o fim da União Soviética e da possibilidade de conflito, Carter pegou o medo da guerra nuclear iminente (que o governo teimava em esconder) e o transferiu para a invasão alienígena (que o governo teimava em esconder). E o que era um jogo de mistério acertou no ponto o nervo da desilusão com a política. Como confiar em quem vive mentindo para você? No caso, como confiar nos políticos/agentes de segurança nacional/figuras de autoridade, que não são o que aparentam. E, nesse caso, agradeça a Carter por 24 Horas.


Os alienígenas em adaptação de Jogos Mortais

A série emplacou sua grande audiência na terceira temporada. A “grande conspiração†que ficava ao fundo foi engrossando. Tudo começou a ser questionado, até a lealdade de Scully a Mulder, de um lado, e ao governo, na outra ponta. Mas, no fim, acho que escritores, personagens e, principalmente, nós espectadores ficamos perdidos.

Foi perceptível quando o cansaço bateu. O mote ficou forçado, os atores descobriram que podiam exigir fortunas de salário e tudo começou a ir pro ralo já na temporada seguinte, a quarta - meu próprio interesse por ela sumiu completamente. Daí em frente muita gordura poderia ser cortada. Arquivo X poderia terminar, tranqüilamente, com 5 ou 6 temporadas.

Nessa esticada, até a crítica ao poder se diluiu. O Canceroso, antes um personagem traiçoeiro que simbolizava o governo, virou uma espécie de protetor. A nação americana voltou a ser a mãe preocupada com seus filhos. E tudo foi ficando muito sem sal...


E o Casal Vinte em versão FBI

Boa parte da culpa vai para a ficha de alguns executivos gananciosos da Fox. Esticar uma série que já não tinha nada a dizer é, em último nível, decisão administrativa. E, do ponto de vista criativo, isso arrebenta com a imagem dos roteiristas. Não à toa Carter já estava longe de seu rebento de sucesso há muito tempo.

Ainda acredito que Arquivo X foi uma grande série que desandou por completo. . Provavelmente ninguém tem saco para uma novela longa demais por mais carismáticos que sejam os personagens e por mais mirabolantes que sejam as histórias. Citando um novo clássico da modernidade, “Tudo que tem um início, tem um fimâ€. E acrescento, quanto mais certeiro e amarrado esse fim, melhor.

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