O PÃlula resgata do baú grandes filmes (e discos) que estão sempre disponÃveis na prateleira da sua locadora - ou nas prateleiras virtuais da web.
Quando eu era moleque, numa época em que a censura pegava mais pesado com filmes de sexo, a madrugada na TV era invadida por desconhecidos filmes B de terror. Logicamente eu era proibido de assistir, porque lavar lençol todo dia não é fácil. No entanto, houve um filme que nunca consegui assistir inteiro ainda na infância: só vi o suficiente para não me deixar em bons lençóis.
Plano
Acontece é que o tal filme, que se chama “Psicose†(1960), perturba exatamente pelo que não se vê. Parte do terror a respeito da personagem principal vem do fato de não podermos entender o que se passa em sua cabeça. Isso torna difÃcil saber o que esperar. Mas eu ainda vou chegar lá.
A obra-prima de Alfred Hitchcock, onde ninguém é santo, começa com Marion (Janet Leigh) roubando 40 mil dólares de seu chefe. Na fuga o suspense já captura a atenção, pois a ladra comete uma bola fora atrás da outra. Escapando desesperadamente da cidade grande ela chega sob forte chuva a um hotel de beira de estrada chamado Bates Motel.
Contra-plano
Até esse momento eu já tinha visto o filme uma dezena de vezes. Mas era só o tempo da minha mãe reconhecer do que se tratava e me mandar pra cama. A trilha sempre me denunciava. Aliás, o trabalho do músico Bernard Hermann merece ao menos um parágrafo. Nunca houve música tão perturbadora no cinema, e é considerada pelo próprio Hitchcock como responsável por 1/3 do efeito. Ela sempre me levava à quele universo escuro e desesperador do filme que eu nunca assisti. Tempos depois aluguei “Psicose†em vÃdeo. Era impecável, mas as cenas seguintes não eram tão fortes quanto a ausência delas na minha infância.
A atmosfera de suspense do inÃcio dá lugar então ao terror, quando o roteiro começa a se revelar e o nó no estômago cresce em uma cadência desesperadora. A história se desenvolve como uma viagem onde o destino final é o canto mais escuro e sinistro da mente da personagem. Ainda hoje, se vejo esse filme sozinho em casa de madrugada, tenho arrepios. Os lençóis felizmente continuam secos no dia seguinte.
Bom, deixo aqui a recomendação e me despeço. A mamãe já está me chamando e ela fica muito impaciente quando eu finjo que não estou escutando. Ela é alguém que ninguém quer ver nervosa.