Os diamantes sĂŁo eternos
PĂlula Pop – Mr. Bond, como foi o inĂcio de sua carreira, contra o Satânico Dr. No, em 1962?
Connery – Suponho que concordamos todos que contracenar com Ursula Andress Ă©, provavelmente, a melhor estrĂ©ia que um conquistador pode ter no cinema. De fato, ali estabeleci as caracterĂsticas que se tornaram marca registrada da sĂ©rie que, inclusive, levou o Oscar de Efeitos Sonoros, em 1965, contra Goldfinger. Mas isso Ă© apenas para cinĂ©filos, naturalmente.
PĂlula Pop – E o que aconteceu, quando, apĂłs cinco filmes de sucesso, vieram crĂticas pesadas? Disseram que vocĂŞ já nĂŁo era mais o mesmo.
Lazemby – A crĂtica Ă©, por vezes, incompreensĂvel. A serviço secreto de sua majestade, tive de agir sozinho contra Blofeld e sua organização Espectro, nesse filme que foge um pouco da mitologia original. Suponho que os fĂŁs nĂŁo tenham aceitado bem “o filme com o casamento de James Bond”, uma mudança ousada, e houve uma rejeição que definitivamente nĂŁo aconteceria com o outro cara.
PĂlula – Certamente, porque ele nunca se casaria.
Por que pĂşblico e crĂtica nĂŁo me levam a sĂ©rio?
Lazemby – Quer mesmo chegar vivo ao final desta entrevista?
PĂlula – Naturalmente. Dois anos depois, James Bond volta em grande estilo. O que fez com que decidisse voltar? Foi o dinheiro?
Connery – É evidente que sim. Após marcar meu rosto e meu estilo, gravei meu nome na história e, para muitos, assim como os diamantes, tornei-me eterno. Mas precisava continuar crescendo como ator, por isso voltei apenas para viver este papel e deixar morrer minha participação. Depois disso, nunca mais.
PĂlula – Converso com vocĂŞ sobre isso depois. Agora eu gostaria de saber do Mr. Bond como foi o desafio de substituir o mito?
Moore – Naturalmente que não foi fácil, entretanto, estive muito bem acompanhado, sempre (riso irônico)...
PĂlula – Naturalmente...
Com 007 Ă© assim: "se der mole eu paaann..."
Moore – Na verdade, o diretor Guy Hamilton voltava para seu segundo trabalho, em 1973. Com Viva e deixe morrer, começou a estabelecer novos nĂveis de complexidade nas histĂłrias. Some-se a isso a trilha original, composta por Paul e Linda McCartney, e, convenhamos, Ă© uma grande estrĂ©ia. Hamilton tambĂ©m dirigiu o filme em que eu era a caça, contra o homem com a pistola de ouro. Na seqĂĽĂŞncia, a entrada de Lewis Gilbert na direção levou-nos a outro patamar.
PĂlula – Efeitos especiais...
Entrou numa fria, e se saiu muito bem...
Moore – Precisamente. O espiĂŁo que me amava teve seqĂĽĂŞncias no Egito, no fundo do oceano, e uma perseguição de esqui em montanha, todas elevando os nĂveis de ação em uma escala jamais realizada. Era 1977, e os efeitos começavam a deslanchar. Ainda que o Bond way of life já estivesse eternizado, meus longas definiram os parâmetros daquilo que seria outra marca registrada da sĂ©rie.
PĂlula – Apetrechos tecnolĂłgicos, roupas especiais, carros fantásticos...
Connery – Por favor, só há um carro fantástico no mundo.
Todos – Aston Martin DB5.
PĂlula – Bom vocĂŞ ter voltado Ă conversa, Mr. Bond. VocĂŞ disse que nunca voltaria e...
Connery – Never say never again... Kim Basinger e Barbara Carrera também foram dois bons motivos. E afinal, há uma marca pessoal de 007 que ainda não foi citada aqui, apesar de ser a mais evidente.
NĂŁo Ă© considerado da linha oficial, mas como ignorar um longa deste sujeito?
PĂlula – O humor britânico.
Connery – Quase tenho vontade de não matá-lo...
PĂlula – Aposto que Mr. Bond nĂŁo concordaria com isso em nenhuma circunstância.
Dalton – Certamente. Os anos de 87 e 89 foram exceções no argumento de minhas missões.
PĂlula – Marcado para a Morte e PermissĂŁo para matar. Apesar de sempre fazer parte do universo do agente secreto, há um tom mais sombrio no ar...
Dalton – Pela primeira vez, uma passagem marginal à minha própria mitologia. Nessa época, fui considerado mais humano e menos super-homem. Matei com ódio, promovi banhos de sangue. Permissão para matar era cruelmente diferente do restante da série. Sempre havia muito em questão, pessoalmente. Era movido a vingança...
Eu mato Ă© mais de mil!
PĂlula – E um "Bond Shakesperiano", alĂ©m de muito criticado, nĂŁo obteve sucesso nas bilheterias... Uma pena, em se tratando da oportunidade de histĂłrias mais violentas.
Dalton – Evidentemente. E se mato você ao final, é por respeito também.
PĂlula – Muito me lisonjeia, mas a mim convĂ©m evitar. Acrescente-se, sobre esta Ă©poca, que foi a verdadeira exceção em sua carreira.
Lazemby – Está me provocando?
PĂlula – Desta vez, nĂŁo. Ou melhor, nĂŁo vocĂŞ. Critico a resposta que se seguiu.
Brosnan – Convenhamos que representei uma recuperação no sentido dos maiores Ăcones que minha prĂłpria figura marcou no cinema. Fui capaz de combinar ironia, fleuma, charme e ação. ApĂłs a frustração do final dos anos 80, voltei de um limbo de 6 anos para recuperar a sĂ©rie. Representei tambĂ©m outro marco, a primeira aparição de Judi Dench como M, chefe dos agentes 00.
PĂlula – Sua auto-estima Ă© imbatĂvel tambĂ©m. Concordo, mas sua Ă©poca representa um exagero de efeitos visuais, passando a viver deles.
Versatilidade. Todos em um sĂł...
Brosnan – Reconheço. Quanto mais perfeitos se tornavam os efeitos visuais e as possibilidades, piores elas se tornavam em verossimilhança ou realismo. Entretanto, eu poderia derrubar esse argumento meramente cinéfilo, já que o cinema é o locus da fantasia, do inimaginável. Lembre-se que estou ali para isso, fazer o que homens comuns não podem fazer.
PĂlula – Certo. De modo que ao longo de 42 anos de carreira e 22 filmes...
Craig – 21.
PĂlula – ... contando um filme nĂŁo-oficial, chegamos ao Cassino Royale. HomĂ´nimo do primeiro livro de Ian Fleming, de 1953, e do filme de 1967, que foi realizado em forma de sátira da sĂ©rie.
Craig – Woody Allen sobrinho de James Bond? Essa histĂłria precisava ser recontada... Martin Campbell, volta Ă direção depois de Goldeneye, e o que se pode ver nos trailers parece ser uma estĂ©tica diferenciada dos longas anteriores, de imagem muito limpa, simpática, tĂpica americana. É evidente que isso precisava ser revisto.
Os agentes 00: todos o foram, e ainda assim há um estranho no ninho...
PĂlula – De modo que a tendĂŞncia Ă© acreditar que este novo Cassino Royale seja mais realista, em comparação com o desastroso outro dia para morrer. Algo mais que esse filme tenha de especial?
Craig – Eva Green.
PĂlula – Naturalmente.
Tempos modernos, quando um loiro pode vir a se tornar Sean Connery...
Dalton – Então, Mr. Costoli. Divertiu-se em companhia de seis agentes 00?
PĂlula – Certamente.
Lazemby – Sei o que está pensando. Quer construir um raciocĂnio que o torne o sĂ©timo James Bond.
PĂlula – Enganou-se. Admiro, reconheço e defendo o trabalho de todos vocĂŞs. Mas ainda prefiro Jack Bauer.
* Tiros* fim da gravação