Na boa
Confirmado como o novo rosto do gigante esmeralda Hulk, Edward Norton fará o seu primeiro filme de grande apelo comercial - 11 anos depois de despontar no cinema em “As Duas Faces de um Crimeâ€, com o qual foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Se
Johnny Depp, que era o mais notório nome avesso às superproduções, capitulou e ainda assim deu um banho de interpretação com seu Jack Sparrow em
“Piratas do Caribeâ€, por que Norton não poderia levar dignidade como o raivoso Doutor Banner?
O personagem criado por Stan Lee, por sinal, não está muito distante da persona que o ator exibiu na telona. Grande parte de seus papéis foi temperada com ingredientes como ódio, violência, esquizofrenia, experimentação e ousadia, geralmente promovendo uma transformação durante a narrativa. São os casos de Jack, de “Clube da Lutaâ€, e Derek Vinyard, o protagonista de “A Outra História Americanaâ€. Os dois encontram a pior maneira de extravasar seus sentimentos: arrebentando a cara alheia.
A fúria como Jack se entrega ao Clube da Luta e como Derek, um neonazista, agride negros não se restringe ao muque. Apesar de ter se preparado fisicamente para “A Outra História Americanaâ€, Norton se empenha em expor um tipo de violência originada pela mente doentia, fruto de uma época globalizada em que as pessoas perderam a sua identidade. Jack é o maior exemplo: um investigador de seguros que, para suportar a pressão, cultua o hábito de participar de terapias em grupo com gente pior do que ele.
O jeito nervoso, perto da ebulição, também caracterizou o ex-viciado de “Cartas na Mesaâ€, o ladrão de “A Cartada Final†e o traficante de “A Última Noiteâ€. Com exceção de “Dragão Vermelhoâ€, Edward Norton parece se sentir mais à vontade na pele de criminosos e figuras marginalizadas. Também escolhe personagens que, de uma forma ou de outra, lutam contra o poder estabelecido. A grande batalha do mágico de
“O Ilusionista†é diante da tirania de um soberano que impede a concretização de seu amor por uma mulher.
Por essas e outras, no que depender de Norton podemos esperar um Hulk bem mais fascinante do que aquele que foi encarnado por Eric Bana no filme de
Ang Lee, há quatro anos. O ator australiano não conseguiu explorar totalmente a psique atormentada de Bruce Banner. Enquanto Hulk não chega, Norton deverá ser visto nas próximas semanas como um galã de romances nos moldes de Cary Grant e Robert Redford. Ele estrela “O Despertar de uma Paixãoâ€, ao lado de
Naomi Watts, em mais um passo inédito de sua carreira.
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Repórter e crÃtico de cinema do jornal Hoje em Dia Nas sombras