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Ditadura Militar

por Igor Costoli

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Gênio de exibição proibida...
Godard, entre uma metáfora e outra, falou em seus Histórias do Cinema sobre como a sétima arte fugiu a seu dever histórico com relação aos horrores da Segunda Grande Guerra. Quando pôs-se a desconstruir sua própria filmografia e a de outrem para compor seu mosaico, muito coube a dizer sobre a missão do cinema: não só dizer o que entala a garganta, mas ainda buscar a verdade.

Godard falava do Holocausto, e de como o cinema se omitiu do que o diretor achava ser sua obrigação, a de denunciar, mostrar ao mundo o que estava acontecendo. Da Segunda Guerra pra cá, o cinema tornou-se, por vezes, o único ajuste de contas de uma nação com seus trágicos, medonhos ou patéticos capítulos mal-resolvidos.

O mais famoso deles é certamente o Vietnã, o esqueleto no armário da indústria cinematográfica norte-americana. E assim como os alemães e seu Holocausto, o Brasil também possui o seu Vietnã: a ditadura militar. O grande ponto de contato é a contemporaneidade, o que faz com que estes dois capítulos históricos sejam recentes o bastante para serem, inclusive, autobiográficos.

No Brasil, o début cinematográfico da ditadura foi altamente precoce. Em fevereiro de 64 o diretor Eduardo Coutinho inicia as filmagens do documentário sobre a vida e o assassinato de João Pedro Teixeira, líder camponês de Sapé (PB). As ligas camponesas eram iniciativas organizadas de conscientização do homem do campo e mobilização em defesa da reforma agrária. Com a queda de João Goulart, as filmagens foram interrompidas pelos militares que cercaram a locação no Engenho da Galiléia. O doc Cabra marcado pra morrer teve de esperar 17 anos para ser retomado.

A censura tornou-se mais forte com o AI-5 de 68, entretanto obras de conteúdo político já vinham sofrendo com a patrulha ideológica. Nenhum ficaria mais marcado que Terra em Transe , de Glauber Rocha. O filme lançado em 1967 foi proibido em território nacional. Em 1982, Roberto Farias lança seu Pra Frente Brasil, que também cai ao limbo da proibição. Para se lançar um filme no país, era preciso disfarçar a panfletagem de alegorias e metáforas, e mesmo a maioria delas acabava cortada e os longas vinham muitas vezes a padecer de falta de sentido.

Veio o fim da ditadura, vieram as primeiras iniciativas. Então, veio o fim do cinema nacional com o Governo Collor, o que tornou esta outra abertura também lenta e gradual. Mas os recentes lançamentos mostram que a produção cinematográfica pretende, a seu modo, não deixar para trás os anos e os horrores do nosso Vietnã particular.

... terror de exibição garantida.
Fimografia básica
  • Desafio, Paulo César Saraceni (1965)
  • Terra em Transe, Glauber Rocha (1967)
  • Cabra Marcado pra Morrer, Eduardo Coutinho (1984)
  • Muda Brasil, Oswaldo Caldeira (1985)
  • Que bom te ver viva, Lúcia Murat (1989)
  • Alma Corsário, Carlos Reichenbach (1994)
  • O que é isso, Companheiro?, Bruno Barreto (1997)
  • Ação entre amigos, Beto Brant (1998)
  • Barra 68, Vladimir de Carvalho (2000)
  • Cabra-Cega, Toni Venturi (2005)
  • O Sol – caminhando contra o vento, Tetê Moraes (2006)
  • Zuzu Angel, Sérgio Rezende (2006)
  • Sonhos e Desejos, Marcelo Santiago (2006)
  • O ano em que meus pais saíram de férias, Cao Hambúrguer (2006)
  • Batismo de Sangue, Helvécio Ratton (previsto pra 2007)

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