O aspirante a galã dos 80...
Hoje ele conta a história desse jeito: Sim, quando tinha oito anos de idade recebeu do pai, um cineasta underground, um baseado numa festa. O que provavelmente deve ter parecido ao pai a única atitude correta, já que o menino foi criado desde pequeno em meio a um ambiente onde cogumelos e maconha eram regra. E (é assim que ele conta) era exatamente esse o tipo de lição que muitos pais da cultura underground estavam passando para seus filhos na Costa Leste americana daqueles dias. Como acréscimo, a famÃlia dele levava uma vida cigana, com mudanças constantes e liberdade também. O psiquiatra atual diz que parece que ele foi criado por uma matilha de lobos, comentário que ele revela, tranquilamente, em público.
Porém, acrescenta: isso não é tudo. Havia muitos momentos bons enquanto o pai e a mãe estavam casados. E provavelmente foi por esses tempos que ele definiu quem é - o lado melhor, talentoso, e as quedas bruscas. Isso é o que ele diz agora, se refazendo do estrago. Para Robert Downey Jr., o papo de “sou um novo homem†não parece ser balela. Inclusive porque ele nunca se sai com essa história de “renascimentoâ€, “nova vidaâ€. Apenas segue no embalo da nova onda, tentando permanecer na crista. E “
Homem de Ferro†marca um ponto inédito. A onda nunca foi tão favorável.
Jornalistas sempre costumam mencionar como é impossÃvel traduzir para o papel a fala magnética e as tiradas secas e rápidas de Downey Jr.
Os diretores procurados pelos jornalistas são unânimes em afirmar que é difÃcil encontrar um ator como ele. “Grande nome da sua geraçãoâ€, “uma entrega sem igualâ€, “pessoa incrivelmente afável e tranqüilaâ€. E garantem que, mesmo de joelhos diante das drogas, ele não se atrasava no set. Chegava, fazia seu trabalho com mais ou menos afinco, e seguia estrada abaixo depois.
No começo da carreira, ele chegou a participar do Saturday Night Live e fez sucesso com comédias adolescentes (“Mulher nota 1000â€, “De volta à s aulasâ€). Mas foi com “Abaixo de Zeroâ€, no papel de um drogado, que a crÃtica o apontou com elogios pela primeira vez. Nessa época, namorava
Sarah Jessica Parker, com quem tinha trabalhado em “Quando se perde a ilusãoâ€.
Desistiu das comédias e optou por uma carreira mais séria. Disso viria o convite para fazer o teste que o levaria ao papel principal em “Chaplinâ€. Até hoje não se compreende bem porque sua atuação não levou o Oscar. Após “Chalplinâ€, ele diz, não encontrou as portas abertas e os desafios artÃsticos que esperava de Hollywood. Atores amigos eram convidados para papéis dificÃlimos, e ele nada. As drogas, companhia de sempre, passaram a ocupar cada vez mais seu tempo. Esse é o ciclo que culminaria em prisões e escândalos que fizeram a festa dos tablóides e ainda hoje deixam um rastro na internet. Robert Downey Jr. não passou alguns dias trancado em uma delegacia – ele foi para a cadeia. Doze meses.
Na pior e sem perspectivas de trabalho, foi Mel Gibson quem o convidou para um filme que produzia (“Crimes de um detetiveâ€) e garantiu com um cheque do próprio bolso o valor de caução pedido pela companhia seguradora para que ele entrasse no projeto. Logo depois, em “Na Companhia do Medo†conheceu seu atual esposa, Susan Levin, produtora do filme. Em 2005 lançou seu primeiro disco,
“The Futuristâ€, com oito músicas de próprio punho. Era o álbum que prometia gravar há anos, ele que toca piano desde criança.
Entre os próximos trabalhos vieram “Beijos e Tirosâ€,
“Boa noite e boa sorteâ€,
“A Peleâ€, “O Homem Duplo†e
“ZodÃacoâ€. E o ator promissor cumpria o que se esperou dele. Então, o “Homem de Ferroâ€, onde o diretor do filme,
Jon Favreau, se esforçou para que ele estivesse entre os candidatos a protagonista. E Downey Jr. fez um teste, considerado impecável, para o papel.
O lado bad boy parece que se resumia à s drogas. Longe do vÃcio, com um novo casamento e um filho de 14 anos, chamado Indio, ele mantém na cozinha de casa uma foto sua e da mulher com George W. e Laura Bush, na Casa Branca. Definiu a si próprio há pouco tempo como alguém careta (“squareâ€), comentando que dentro de um rebelde sempre costuma haver um conservador. Ou seja, toda a trajetória até aqui revela que ele já era o Tony Stark que os estúdios buscavam, antes mesmo que o filme virasse realidade.
O personagem do Homem de Ferro foi, por muito tempo, uma reserva de ambigüidade da Marvel. Um industrial fanfarrão, arrogante e alcoólatra, fabricante de armas, que cria para si uma armadura e vira herói não era exatamente a descrição de um personagem a ser vendido como programa de famÃlia. Agora é. As muitas alterações para deixar o personagem mais palatável ganharam realidade na pele de Downey Jr.
Ainda nesse ano, ele aparece em “Tropic Thunderâ€, a comédia-sarro de
Ben Stiller sobre os filmes de guerra, e em “The Soloistâ€, um drama de
Joe Wright, mesmo diretor de
“Desejo e Reparaçãoâ€. É o grande garoto de duas décadas atrás tentando retomar o trem para as estrelas. Dessa vez, com os dois pés fincados no chão.
...enfrenta, a ferro e fogo, a chance de começar de novo.