August: Osage County (2013) | |
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Direção: John Wells Elenco: Meryl Streep, Julia Roberts, Chris Cooper, Ewan McGregor |
A origem teatral está o tempo todo presente em “Álbum de Família”. São diálogos, diálogos e mais diálogos. Mas que saem da boca de grandes atores. Em atuações espetaculares. Interpretando os personagens da peça de Tracy Letts está gente como Meryl Streep, Julia Roberts, Chris Cooper, Margo Martindale, Julianne Nicholson e Benedict Cumberbatch. A direção de John Wells é sóbria, do tipo “entrega o texto pras feras e não se intromete”.
Mas seria injusto achar que o diretor fez só isso. Há uma tensão constante a partir da primeira cena que vai num crescente até explodir em momentos-chave, levando os membros daquela família a um limite que nunca parece chegar. Sempre que se acha que tudo já foi dito e sofrido, vem algo mais. A história é uma mistura de “O Casamento de Rachel” com “Deus da Carnificina”, em que uma reunião familiar – no caso o desaparecimento do patriarca Weston – reúne diferentes pessoas. Um catalisador (a matriarca Violet, viciada em pílulas) faz explodir sentimentos reprimidos, segredos e muita crueldade.
O elenco todo está bem, trazendo ainda um Cumberbatch diferente de tudo que estamos acostumados a associar ao ator: seu Pequeno Charles é tão patético que chega a ser chocante. Um personagem importante, a gota de ingenuidade e bondade que provoca, pelo contraponto, nosso assombro frente a todo o ressentimento expelido para todos os lados dentro daquela isolada casa no condado de Osage. Mas é mesmo Meryl Streep quem reina acima dos meros mortais. Sua Violet é tão complexa como real, indo da loucura à sanidade, do ódio ao amor e da dor à graça em questão de segundos. É ela quem dá o tom do filme, que se equilibra na fina fronteira entre o drama absoluto e a comédia pastelão. Há um timing, seguido por todos, que faz com que “Álbum de Família” não penda nem para um lado, nem para o outro, mantendo ao mesmo tempo o humor e uma pesada desolação.
Apesar de por vezes tentar focar demais em Barbara (Roberts), a filha pródiga de Violet, o filme distribui bem seus dramas, dando a todos os personagens (e atores) a chance de uma grande cena. Mas ao utilizar a mulher vivida por Julia Roberts como linha narrativa (principalmente no final), o longa perde um pouco a força de amplo retrato familiar como microcosmo das relações humanas.
“Álbum de Família” é uma experiência devastadora graças à sua ironia dolorosa aliada a grandes atores. É daqueles filmes que nos obriga a encarar nossa própria natureza e refletir sobre o tipo de laços que estabelecemos. “As famílias felizes parecem-se todas. As infelizes são infelizes à sua maneira”, escreveu Tolstói em “Anna Karenina”. E a infelicidade dos Weston é de uma maneira que você não irá esquecer.
Uma resposta para “Álbum de Família”
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