The Counselor (2013) | |
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Direção: Ridley Scott Elenco: Michael Fassbender, Penélope Cruz, Cameron Diaz, Javier Bardem |
Na filosofia, a teoria do duplo efeito trata de uma ação tomada tendo ao mesmo tempo consequências positivas e negativas. “O Conselheiro do Crime” apresenta os efeitos de uma escolha aparentemente positiva feita por um advogado (Fassbender) e que vão se estender de forma trágica para vários personagens à sua volta. O primeiro roteiro original escrito por Cormac McCarthy mantém a desilusão do autor, levando-nos tal qual um trem descarrilado em direção a um final que vai desagradar mais do que aquele de “Onde os Fracos Não Tem Vez”.
O tal advogado entra em sociedade com Reiner (Bardem), dando um mergulho sem volta em um mundo de violência, sexo e calor na fronteira dos Estados Unidos com o México. O duplo efeito está lá o tempo todo: a primeira metade do filme é toda sobre ações, e a segunda trata das consequências. Ridley Scott consegue imprimir um ritmo tenso que valoriza todas as reações, parecendo ter mais interesse nas ondas que se formam do que na pedra que atinge o lago. Assim nunca conseguimos ter um envolvimento afetivo satisfatório com os personagens, o que seria importantíssimo para a parte final da trama.
Mas o distanciamento parece proposital (mesmo não funcionando totalmente), já que o espectador nunca é convidado a entrar na história, preso ao seu papel de observador, como alguém que vê um acidente de carro acontecendo e nada pode fazer para impedi-lo. Ao apostar nas cenas de sexo, o diretor já dá uma dica destas relações que se darão mais de forma física do que emocional. O que importa aqui não é a resolução, mas o desespero da situação.
A natureza em suas duas dimensões são potentes metáforas visuais adotadas pela obra. O diamante é a pureza, a beleza natural e eterna que possui valor exatamente pela transparência. E ser transparente é tudo que o mundo de “O Conselheiro do Crime” não permite. A opacidade é questão de sobrevivência, e com as insistentes imagens de chão sendo lavado, Scott reforça que estamos em uma realidade de sujeira, em que não há espaço para o puro e limpo. No outro lado temos o leopardo, animal com instintos violentos voltados unicamente para a própria sobrevivência. Associadas a estas metáforas estão as duas principais personagens femininas, vividas por Penelope Cruz e Cameron Diaz.
Nesta grande narrativa sobre uma situação limite, em que as saídas parecem todas fechadas, McCarthy peca pelos diálogos literários demais, repletos de lições de moral. Ridley Scott entra na onda e constrói um filme em que o sentido se dá mais nas falas do que nas imagens. Além disso, o elenco estelar (Édgar Ramírez, John Leguizamo, Bruno Ganz) chama demais a atenção para si mesmo, prejudicando a concentração em algumas cenas. “O Conselheiro do Crime” não é fácil e vai dividir opiniões. É o tipo de experiência que vai fazer muita gente sair da sessão reclamando, mas não há como negar que é honesto ao seu princípio moral: pode causar um duplo efeito no público. Difícil é ficar indiferente.
Uma resposta para “O Conselheiro do Crime”
[…] do neorrealismo que do seu cinema – onde Salvador reencontrará a mãe, Jacinta, vivida por uma Penélope Cruz maravilhosa, em modo Anna Magnani, boa como ela só é nas mãos de Almodóvar. Por mais que o […]