Trance (2013) | |
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Direção: Danny Boyle Elenco: James McAvoy, Vincent Cassel, Rosario Dawson, Danny Sapani |
Danny Boyle parece que pretende deixar o público literalmente “em transe” com seu novo filme. Há algo na forma de condução dessa história de hipnose com roubo de quadros que a torna uma espécie de viagem lisérgica em que a audiência não consegue muito bem distinguir sonho e realidade e a sala escura do cinema se transforma em um mundo paralelo, uma forma de acesso a uma caverna do inconsciente em que se é levado pelos sentidos de forma desconexa.
O problema é que se na estrutura a direção funciona nesse sentido, o roteiro não ajuda, em uma história confusa e cheia de furos que não faz sentido. Se estivesse também aberto a experimentações fragmentárias, não haveria problema, mas o racionalismo da narrativa busca explicar tudo o que presenciamos e, dessa maneira, forma e conteúdo não se encaixam bem, criando uma experiência curiosa, mas falha.
“Em Transe” segue Simon, um segurança de obras de arte famosas que perde parte de sua memória ao ser acertado na cabeça durante o roubo do quadro Bruxas no Ar, de Goya. Quando os bandidos não encontram o quadro onde devia estar, a resposta só pode estar com Simon, mas ele não lembra onde pode ter colocado a obra de arte. Entra em cena Elizabeth, que através da hipnose pode ajudá-lo a recordar. O elenco está bem, e McAvoy, que é o Professor X em “X-Men: Primeira Classe”, tem a oportunidade de fazer um papel oposto: ao contrário do mutante que sabe sempre o que todo mundo está pensando, agora é o cara comum que não sabe nada. Vincent Cassel e Rosario Dawnson completam o estranho triângulo amoroso que fará a história andar por caminhos inesperados.
Cineasta pós-moderno, Boyle mistura como poucos os movimentos de câmera, filtros de lentes, cores e uma montagem frenética muito própria de clipes de música (de preferência o trance, que dá o título original) para contar esta história. Não por acaso “Bruxas no Ar” é o quadro perdido: Goya mistura ali realismo e sonho, em uma obra indefinida que parece servir de inspiração para o diretor. E a partir daí há sexo e violência inter-relacionados (bem ao gosto dos estudos psicológicos do inconsciente) com tendências ao absurdo que muitas vezes se revela à beira do pastiche (como um momento envolvendo o som de um barbeador).
Mas associado ao roteiro que teima em tentar explicar tudo, com suas várias reviravoltas e mudança nos personagens, “Em Transe” acaba se revelando um filme confuso, que perde força por não se decidir entre thriller policial e drama psicológico. Visualmente hipnótico, tem o poder de deixar o espectador tão perdido quanto o personagem principal. O que, nesse caso, não é exatamente uma boa coisa. A mistura de Kafka com “Thomas Crown” deixou a desejar…