Oblivion (2013) | |
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Direção: Joseph Kosinski Elenco: Tom Cruise, Morgan Freeman, Olga Kurylenko, Andrea Riseborough |
“Oblivion” (“esquecimento”, em inglês) é um ótimo título para o novo filme de Tom Cruise, já que só pode ser devidamente apreciado se o espectador, assim como o herói da trama, tiver sua memória apagada antes da projeção. Isso porque o filme suga inspiração de outras obras com o mesmo ímpeto com que as gigantescas usinas futurísticas que o personagem de Cruise deve proteger drenam a água dos oceanos de uma Terra moribunda.
Dirigido por Joseph Kosinski (o mesmo de “Tron – O Legado”), o filme bebe de fontes como “Wall-E”, “Moon”, “2001 – Uma Odisséia no Espaço” e “Independence Day”; e qualquer espectador com uma pequena familiaridade com histórias de ficção científica vai adivinhar metade da trama antes mesmo de terminar a narração expositiva que explica, no começo do filme, que o nosso planeta foi tornado inabitável por uma guerra atômica contra invasores alienígenas. Jack Harper (Cruise) é um dos técnicos que moram em altas torres espalhadas no território devastado e fazem a manutenção dos “drones” robôs encarregados de coletar recursos naturais para a nova colônia da humanidade em uma das luas de Saturno. Por “razões de segurança”, Harper teve sua memória apagada antes da missão e só conhece as ruínas, a sua torre e a sua burocrática companheira Victoria (Andrea Riseborough), com quem ele forma uma “equipe eficiente”, frase que os personagens adoram repetir.
É aí que entram na história a bela e frágil Julia (Olga Kurylenko), uma misteriosa mulher com quem Harper tem sonhos recorrentes (e que literalmente cai do céu na narrativa), e Malcolm Beech, personagem que é basicamente o Morpheus, de “Matrix”, só que interpretado por Morgan Freeman. A trama é tão fraca quanto a mocinha, já que diversos aspectos da história não fazem sentido senão como parte de uma tentativa de ludibriar o espectador e trazer reviravoltas e revelações que, ao invés de surpreendentes, são mecânicas e previsíveis. Não precisamos nem ter assistido a “O Planeta dos Macacos” para saber que há algo a ser descoberto nas “zonas radioativas” proibidas, e nem precisamos estar familiarizados com a vilania de HAL-9000 para reconhecer a ameaça dos “drones” de olhos vermelhos.
Com uma trama pouco original contada de modo burocrático, “Oblivion” é incapaz de despertar a mesma emoção ou reflexão filosófica do que os filmes que imita. Quando esboça um pouco mais de profundidade, o dilema existencial do protagonista é resolvido com um tapinha na cabeça e um curto discurso motivacional da mocinha. O que redime em parte o filme é o aspecto visual: as ruínas da civilização formam um cenário belíssimo, que contrasta com o estilo “Apple” minimalista da tecnologia usada pelos heróis. Mas nem a direção de arte escapa da tendência a reciclar referências, trazendo um design que remete em vários momentos ao próprio “Tron – O Legado”, e a elementos dos jogos da série “Portal”.
Não que “Oblivion” seja um filme ruim. O gênero da ficção científica, muito mal representado no cinema, tem visto coisa muito pior. Só que o filme não tem como sobreviver às comparações que evoca. Ao “homenagear” os clássicos do sci-fi com uma trama que é uma colcha de retalhos feita com elementos desses filmes, “Oblivion” abdica da possibilidade de conquistar um lugar entre esses mesmos clássicos, e se condena ao esquecimento.