Django Livre


Nossa avaliação
Django Unchained (2012)
Django Unchained poster Direção: Quentin Tarantino
Elenco: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington


Juntar western, escravidão e blaxploitation não é uma tarefa fácil. Por isso chega a ser surpreendente a forma como Quentin Tarantino consegue misturar isso tudo com talento criando uma diversão bem acima da média ao mesmo tempo em que homenageia o cinema. Por outro lado, não é surpresa alguma que o diretor caia em alguns problemas a respeito da temática de seu filme.

Django (Foxx) é um escravo que se torna caçador de recompensas pela tutela do Dr. Schultz (Waltz) e parte para recuperar sua esposa (Washington), vendida para o vilão Calvin Candie (DiCaprio). Com ótimos diálogos e belas imagens, Tarantino mistura planos abertos com supercloses, fazendo um milk-shake com John Ford, Sergio Leone (e a violência de Peckinpah, mas isso já é uma das marcas do diretor) que não apenas presta tributo como atualiza estas referências.

O western ganha vigor e é quase reinventado não só na forma gráfica como são trabalhados a paisagem e os personagens, mas também na inventiva trilha sonora (claro). Utilizar o hip hop é genial, dando uma piscadela para o público atual a respeito da situação e conflitos dos negros na sociedade americana moderna. Do blaxploitation, vem o super-herói negro, o cara durão em sua vingança contra o branco opressor.

Tudo misturado no estilo do diretor em que nada é levado muito a sério. Funciona, mas gera um incômodo ao tratar de um assunto tão complexo quanto a escravidão. Ao colocar Django como exceção (algo fundamental para a trama funcionar), Tarantino ignora uma série de aspectos importantes da história dos negros e sua luta por afirmação. Além disso, apresenta uma piada envolvendo a Ku Klux Klan que, além de historicamente incorreta (a Klan vai surgir alguns anos depois) não possui nenhuma função narrativa. É apenas Tarantino brincando com coisa séria e querendo enfiar na tela todas as ideias que tem, criando por vezes uma estrutura episódica (o grupo com a mulher de bandana no rosto é mais um exemplo disso) que vai se refletir na duração exagerada do filme.

Ao inserir sua trama às vésperas da Guerra de Secessão, “Django Livre” propõe a construção de um herói que também é uma espécie de messias, surgindo como uma antecipação do fim da escravidão. Apresentando palavras ofensivas e violência em busca de realismo, o diretor e roteirista as esvazia de sentido ao inseri-las em um contexto fantasioso, tornando tudo um exercício de estilo plástico que peca por transformar temas complexos em simples diversão.

E não há como negar que “Django Livre” é muito divertido. Engraçado em seu humor politicamente incorreto, a verdade é que apesar dos deslizes históricos e morais, Tarantino consegue intercalar com maestria momentos absurdamente hilários com outros de puro drama. Em dado momento, o nome “Mississipi” aparece sobre filas de escravos vistas do alto, como se formassem um rio de dor, porém (como todo rio) passageiro. A imagem é forte, emocionante e belíssima. Em momentos como este, o diretor comprova seu brilhantismo e nos permite relevar seus exageros.

As atuações são ótimas, com destaque para Christoph Waltz e Leonardo DiCaprio dosando ironia e sadismo na medida certa. Trata-se de um filme que celebra o cinema e deve ser visto na tela grande da sala escura. Há uma cena pós-créditos – e muitas outras que vão ficar durante muito tempo em sua memória. E há Django. Um personagem desde já icônico. E com uma frase (“It’s me, baby”) destinada à história do cinema. Não é pouca coisa.


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