Amour (2012) | |
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Direção: Michael Haneke Elenco: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert, Alexandre Tharaud |
Em um determinado momento de “Amor”, Anne (Riva) pede a um ex-aluno de piano para tocar o Bagatelle. Conhecido em português como Bagatela, é uma música despretensiosa, de breve duração e típica do Romantismo. Bagatela também costuma significar “aquilo sem importância”.
A pequena cena resume o que é o filme.
Pois “Amor” vai tratar das “bagatelas”, as coisas “sem importância”, mas que na verdade são aquilo que fazem a vida acontecer. O cotidiano, lugar do despretensioso, é o foco da obra ao se debruçar sobre o dia a dia de um casal idoso dentro de um apartamento. O conflito de gerações representado pelo ex-aluno vai se solidificar na figura da filha (Huppert), a juventude que quer soluções rápidas e definitivas frente à resignação dos pais.
O filme nos apresenta no início a imagem de uma plateia. Não vemos o palco, já indicando que os holofotes dessa vez estarão em pessoas comuns, na vida ordinária. O casal formado por Anne e Georges (Trintignant) aparece primeiro cercado de muitas pessoas, e nos planos seguintes vão diminuindo de companhia aos poucos, tornando-se cada vez mais isolados até chegarem ao apartamento onde viverão sua solidão. É lá que a mulher vai sofrer um ataque que irá aos poucos debilitar cada vez mais seu corpo e sua mente, impossibilitando-a de fazer qualquer mínima tarefa cotidiana, “despretensiosa”, sem a ajuda do marido.
O diretor Michael Haneke nos mostra o apartamento como uma prisão, fazendo questão de enquadrar paredes e tetos, criando um ambiente claustrofóbico habitado por este casal sem amigos e familiares. Os planos fixos ressaltam a imobilidade dos personagens, sua incapacidade de mudar a situação em que se encontram. Os tempos mortos, com muitas imagens em que nada acontece na tela, servem para criar em nós a angústia em estar ali, e a consequente vontade de fuga.
A dupla Emmanuele Riva e Jean-Louis Trintignant não apenas possui uma química extraordinária como entregam daquelas atuações para serem lembradas para sempre. Começam de forma minimalista, com pequenos gestos, olhares e expressões que dizem muito para irem caminhando rumo a um discurso físico cada vez mais complexo.
Nos diálogos entre os dois há discussões a respeito da arte, vida, morte e política, transformando aquele apartamento em uma espécie de microcosmo das relações humanas (permitindo, inclusive, uma chave de leitura a respeito do fim moribundo de valores que vão se desfazendo em uma era cada vez mais individualizada). Haneke nos força a olhar para a dureza da realidade da vida não glamourizada e pode até provocar um autoquestionamento a respeito de nossas crenças e ações. Pois, por mais estranho que pareça, existe uma beleza romântica nas pessimistas bagatelas de “Amor”. E do amor.
Uma resposta para “Amor”
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