À beira do caminho


Nossa avaliação

[xrr rating=3/5]

O primeiro plano de “À beira do caminho” é um caminhão que se afasta da tela numa estrada ampla e vazia. Um dos últimos é o mesmo caminhão, agora vindo em direção à tela. Não é dos recursos mais sutis ou elegantes, mas é uma forma bastante eficiente de costurar a história de um homem que, após passar anos fugindo, é obrigado a encarar seus fantasmas e finalmente volta para casa.

Esse é o cinema de Breno Silveira: simples, mas efetivo. Silveira não é nenhum gênio, mas é um artesão eficiente, acima da média na direção de atores e competente na construção de melodramas alicerçados no poder de catarse, identificação e num espectro de cores e emoções primárias. Pena que neste terceiro longa ele mostre ainda não confiar no próprio taco. “À beira do caminho” peca na utilização excessiva da trilha sonora de Berna Ceppas para soletrar ao espectador como se sentir e quando se emocionar, em momentos em que a performance silenciosa de João Miguel seria bem mais pungente.

A catarse para a transformação do caminhoneiro João (Miguel) é a descoberta do garoto Duda (Nascimento) no capô de seu veículo. A mãe do menino acabou de morrer e ele quer ir de Pernambuco para São Paulo, em busca do pai que o abandonou. É óbvio que João vai acabar dando carona a Duda, mas sua relutância em fazê-lo permite um primeiro ato em que a introspecção e os mecanismos de defesa emocional do caminhoneiro permitem a João Miguel mostrar por que ele é, de longe, a melhor coisa do filme.

Esperando por Sula Miranda.

O problema é que essa interação entre os dois funciona bem melhor que os flashbacks que interrompem a narrativa para explicar os motivos pelos quais João se tornou o protagonista amargurado que vemos na tela. Um triângulo amoroso mal desenvolvido – que dá a Dira Paes uma personagem cuja motivação flutua incoerentemente sem nunca ficar clara – e de diálogos pobres é o mais próximo que o cinema de Silveira chega do novelão e se mostra o principal sintoma do roteiro fraco de Patrícia Andrade.

Sem ter Shakespeare como mapa aqui, ela apela para diálogos clichê quando o silêncio seria mais efetivo e desperdiça o competente Ângelo Antônio em uma cena essencial no terceiro ato. Nela, assim como nas frases de para-choque de caminhão que permeiam o filme, a roteirista opta por afirmar e expor o subtexto em vez de explorar a ambiguidade e as possíveis versões de uma mesma história, o que torna o final previsível. Principalmente quando os conflitos entre pais e filhos que ela elaborou até ali são rapidamente resolvidos com uma montagem musical.

As canções de Roberto Carlos continuam muito bonitas, mas acrescentam pouco à narrativa, servindo mais para lembrar “Caminho das nuvens”, outro road movie NE-SE brasileiro com trilha do rei. Sem um roteiro tão bem estruturado quanto “2 filhos de Francisco”, Silveira não consegue fazer pelo legado de RC o que fez por “É o amor” (mas seu trabalho com Vinícius Nascimento confirma que ele é um ótimo diretor de atores mirins). No final, “À beira do caminho” é como suas frases de para-choque: bonitinho, mas ordinário.


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