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O que aconteceria se um adolescente recebesse superpoderes? Colocaria um uniforme colorido e sairia para salvar o mundo? Sempre pensei que o egoísmo típico da juventude faria com que as pessoas procurassem se divertir ao máximo com suas novas habilidades, sem se importar muito com os outros. Felizmente o diretor Josh Trank parece pensar parecido.
“Poder Sem Limites” é a história de origem não de um herói, mas de um super-vilão. A estética “câmera na mão e imagens amadoras” de “A Bruxa de Blair” e “Cloverfield” finalmente chega aos filmes de super-herói para contar a história de três amigos (Andrew, Matt e Steve) que descobrem uma misteriosa matéria desconhecida que dá a eles poderes especiais.
Curiosamente, a maior inspiração do filme não parece ser os quadrinhos da Marvel e DC (apesar de ecos de “Watchmen” e “Homem-Aranha” aqui e ali), mas a animação “Akira”. Como Tetsuo no filme de Katsuhiro Ohtomo, Andrew se torna um ser extremamente poderoso e descontrolado, abalado por vários traumas colecionados ao longo da vida. O clímax é uma tensa explosão de efeitos especiais espetacularmente realistas, como se o confronto final entre Neo e o Agente Smith em “Matrix Revolutions” fosse captado pelos celulares de transeuntes curiosos.
E o realismo é mesmo a maior qualidade de “Poder Sem Limites”. Acredite, você nunca viu seres superpoderosos dessa forma. Além do já citado clímax, a cena do futebol americano jogado entre as nuvens é desde já uma das melhores sequências do ano, com o diretor Josh Trank aproveitando ao máximo a sensação do que seria realmente poder voar livremente.
O roteiro é interessante e consegue desenvolver bem seus personagens, criando arcos narrativos que são importantes para o caminho que a história irá tomar, apesar de forçar um pouco a barra nas questões filosóficas de Matt para explicar a evolução de Andrew como o super-homem nietzschiano. O problema todo está na execução da tal “câmera na mão” (ou “telecinética” em alguns casos).
Percebe-se claramente o desespero de Trank e do roteirista Max Landis para buscar justificativa para a onipresença das câmeras que contam a história. Fundamentais para imprimir o realismo que a produção pede, as imagens amadoras aparecem de forma forçada na maioria do tempo: há uma tentativa de explicar Andrew como uma pessoa com patologia social que só consegue se relacionar com o mundo atrás da câmera, mas não cola muito bem… Entretanto o maior problema é a personagem Casey, que se torna ridícula com sua insistência em filmar tudo com a desculpa de postar em um blog que nunca é explicado.
Além disso, as imagens são perfeitas demais para serem feitas nas situações mostradas, inclusive passando por uma mixagem de som que ignora o barulho de uma festa, por exemplo. A posição das câmeras nas mãos dos personagens muitas vezes também não condizem com o enquadramento que é mostrado na tela, o que tira um pouco a imersão no realismo proposto.
Mas mesmo que tudo isso seja relevado em nome da fantasia do cinema, “Poder Sem Limites” possui um problema claro de ritmo graças à forma episódica com que essas filmagens são apresentadas. O cuidado com a apresentação dos personagens leva a um tempo gasto de forma desnecessária com Andrew e sua família, além do romance sem sal entre Matt e Casey que nuca convence. Isso tudo faz com que o filme demore a engrenar e tira a força de sequencias absolutamente fantásticas colocadas lado a lado a vídeos que parecem saídos daquelas chatíssimas filmagens de festas de família.
Representante direto da era do Youtube e da exposição nas redes sociais, “Poder Sem Limites” tem o mérito de abandonar o herói clássico e altruísta de épocas mais ingênuas e nos apresentar os superseres de hoje. Mas assim como o conteúdo vasto da internet, o filme junta coisas interessantes com outras absolutamente dispensáveis. Uma mistura também típica dos nossos tempos.
2 respostas para “Poder Sem Limites”
[…] construir a dicotomia desse homem bom que nem sempre faz coisas boas, o diretor conta com Michael B. Jordan. Assim como em “The Wire” e “Friday Night Lights”, o ator possui a luz de Grant – nas […]
[…] a integrar uma “superequipe”. Enquanto isso, Chris,ex- Red Mist, se torna Motherfucker, o primeiro supervilão do nosso mundo e com desejo de vingança pelo personagem-título. No meio disso tudo, “Kick-Ass 2” tenta […]