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Matt King (George Clooney) é um advogado que luta com a decisão de vender as terras da família, 25 mil acres de praia havaiana virgem, herdada de uma longa linhagem de antepassados que remonta ao quase mítico rei Kamehameha. Ao mesmo tempo, ele enfrenta o drama da iminente perda da esposa, em um coma irreversível e prestes a ter desligados os aparelhos que a mantém viva, e a descoberta de que ela vinha mantendo um caso com um corretor de imóveis local. Pra completar, King, que se descreve como um “pai reserva”, tem de combater a animosidade das duas filhas, que ressentem a ausência do pai obcecado com o trabalho.
Parece a receita de um drama pesado e melodramático, digno da novela das oito. Mas graças à direção de Alexander Payne e aos belos cenários havaianos, o filme ganha leveza e se torna prazeroso de se ver. É impossível não comparar “Os Descendentes” ao trabalho mais famoso do diretor, o premiado “Sideways – Entre umas e outras”.
O estilo da montagem, a mistura delicada entre drama e comédia, o protagonista patético e angustiado, e a trilha sonora leve são apenas alguns paralelos. Mas a história de Matt King é mais emocionante e tem mais chances de arrancar lágrimas do espectador, ainda que não seja um filme superior a “Sideways”.
E o coração do filme é o advogado interpretado por Clooney. Longe de ser um galã, Matt King é um personagem complexo e cativante. Ele não faz idéia do que dizer para as filhas e tem dificuldade enorme em lidar com a descoberta da infidelidade da esposa, mas se algumas das suas ações parecem infantis e mesquinhas, por outro lado ele nunca é intencionalmente cruel. King é um homem apático, mas propenso a descarregar suas frustrações em surtos de energia e ações impulsivas, sem jamais ser violento. A atuação contida de Clooney e o jeitão calado que confere a King acabam se mostrando as melhores qualidades do protagonista, que dá uma aula de classe ao evitar “rodar a baiana” em momentos que, caso fosse uma novela de TV, o mocinho certamente optaria pela saída mais melodramática e conflituosa.
Como “Sideways”, “Os Descendentes” extrai o riso da maneira como o filme evita “glamourizar” o melodrama, mostrando todos os envolvidos como pessoas em alguma medida desajeitadas e patéticas. Os conflitos interpessoais são mostrados de uma maneira que, se não puder ser descrita como “realista”, pelo menos podemos chamar de “sincera”. O “jeito Payne” de retratar os dramas da vida de um homem soa extremamente verdadeiro, o que só torna o hiato de sete anos entre “Sideways” e “Os Descendentes” ainda mais imperdoável.
“Os Descendentes” é um filme melancólico, mas que não faz da melancolia e do sofrimento seus personagens principais, usando-os apenas como catalisadores, pois Payne entende – e mostra muito bem – que os laços de uma família são formados não pelos momentos felizes, mas pelas dificuldades enfrentadas juntos.
Uma resposta para “Os Descendentes”
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