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“What came first, the music or the misery? People worry about kids playing with guns, or watching violent videos, that some sort of culture of violence will take them over. Nobody worries about kids listening to thousands, literally thousands of songs about heartbreak, rejection, pain, misery and loss. Did I listen to pop music because I was miserable? Or was I miserable because I listened to pop music?”
Rob Gordon – Alta Fidelidade
Uma amiga me disse uma vez que, ao contrário do que se costuma ouvir por aí, o rock não precisa ser salvo. Ela não estava errada. Grandes clássicos jamais perderão sua atualidade e todos os anos somos surpreendidos por ótimos lançamentos tanto de bandas novas como dos veteranos de estrada, que mantêm o rock firme e forte.
O rock tem uma relação singular com o tempo. Ele não pertence, nem é datado, pelo contrário, adere ao tempo e contexto. Não existem tantos outros gêneros que poderiamos encaixar nesse rótulo: atemporal.
Em um tempo onde o Pop enlatado ganhou mais espaço do que deveria, o que talvez explique a grande onda de depressão que assola a sociedade contemporânea, é possível pensar que somos nós quem precisamos ser salvos – e o rock cumpre muito bem esse papel.
Uma mixtape tem o poder de salvar um relacionamento, o dia e até o ano. Rob Gordon tinha razão, há um certo heroísmo em compilar as canções pra uma mixtape. Nos idos dos anos 80, 90 realizar essa tarefa era algo mais laborioso, exigia horas de pesquisa e uma jornada atrás das faixas. Hoje é bem mais fácil, mas nem por isso as coletâneas perderam seu valor.
Vai chegando dezembro e parece que tomamos ares de “Rob Gordon”, várias listas brotam frivolamente pela internet com os melhores do ano – melhor álbum, melhor single, melhor banda, melhor show ao vivo – e assim vai. Sem me preocupar em ser objetiva em uma área onde só cabe a subjetividade posso dizer, sem dúvidas, que na minha opinião “El Camino” do Black Keys é o melhor álbum de 2011.
Parece que o duo “Blues-Rock” (como costumam definí-los) de Ohio, levou mesmo a sério essa empreitada de produzir um som atemporal. A história da banda, que começou em 2001, é a prova de que o clichê “banda de garagem” não perdeu seu vigor. Os dois primeiros álbuns foram gravados no porão da casa do baterista, Patrick Carney, usando apenas um gravador de fita cassete anos 80.
A subida foi gradual e o sucesso e reconhecimento vieram logo após o lançamento do álbum “Brothers” em 2010. Em entrevista, Patrick e Dan Auerbach (vocalista) ainda soam surpresos por conseguirem lotar os shows, tocar duas vezes em uma temporada do SNL e ainda serem reconhecidos pelas ruas.
Como não sermos gratos a uma banda que, apostando tudo nas guitarras, consegue emplacar musicas tão boas, mesmo em uma época em que guitarras estão tão pouco cotadas? Passeando pelas categorias, o álbum “El Camino” é uma verdadeira colisão entre o garage rock, blues, grooves de hip-hop, a voz rasgada e feroz de Auerbach e um tecladinho incansável, que faz o arremate atemporal e incrivelmente contagiante. É um álbum que já te prende desde a primeira audição.
De fato, o Black Keys saiu de uma garagem em Ohio para provar que nem só de miséria e insipidez, ainda que camufladas em efusividade juvenil, vive a música. O peso das guitarras primais, o bom e velho rock’n’roll, visceral e contagiante, não perdeu seu espaço. Black Keys com seu álbum “El Camino” salvou o meu ano. Ainda bem.
2 respostas para “El Camino do Rock”
Se eu ouvisse, em 2009, que o Black Keys desviaria do que eles já faziam, ficaria puto. Mas não é que esse disco e o Brothers são tão gênios quanto?
[…] lugar: Black Keys – El Camino Now I’m the rose, now she knows Oh, it hurts so, and I can’t let go Oh, don’t let […]