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Na “Ilíada”, poema épico de Homero do século VIII a.C, os deuses atuam nos bastidores, manipulando os humanos que são empurrados em direção a uma guerra: é típico da mitologia grega usar divindades para discutir a natureza humana. Em “X-Men: Primeira Classe”, os deuses permanecem decidindo o destino da humanidade. Mas agora, estes seres superpoderosos são os mutantes, que guerreiam entre si em uma batalha que pode levar à 3ª Guerra Mundial.
O primeiro “X-Men”, dirigido por Bryan Singer em 2000, foi uma obra-chave para as adaptações de quadrinhos no cinema. Singer tirou os uniformes espalhafatosos, trocou a fantasia por ficção científica e conseguiu ancorar sua história em um clima realista (e que contou ainda com duas continuações bem sucedidas). É ele quem está por trás de “X-Men: Primeira Classe” (história e produção), mas quem dirige é Matthew Vaughn. A combinação de talentos resultou em um filme espetacular.
Como já é moda, a proposta de Singer foi voltar no tempo para mostrar a origem do grupo. Depois de “Star Wars”, “Cassino Royale”, “Batman Begins”, “Star Trek” e “Wolverine”, chegou a vez do Professor Xavier e Magneto terem seu passado revelado. “X-Men: Primeira Classe” só é possível graças a todos os filmes de super-heróis que vieram antes. Com este universo fantasioso já bem estabelecido no cinema, o roteiro pôde brincar com o gênero, sem se preocupar em justificar todos os personagens. As referências à trilogia anterior dos mutantes estão lá, jogando com o público que já sabe o que vai acontecer com aquelas pessoas e as escolhas que farão na vida. Mas isso não significa que o filme não tenha personalidade própria. Os personagens são muito bem desenvolvidos, com tempo para compreendermos suas motivações. Os mutantes tornam-se finalmente seres angustiados, e quem ganha com isso é Erik Lensherr, ou melhor, Magneto. O personagem cresce ainda mais em complexidade, auxiliado pela ótima atuação de Michael Fassbender, que equilibra insegurança, raiva e fragilidade de forma impressionante.
Com personagens bem desenvolvidos, Singer pôde colocá-los sem medo em um pano de fundo histórico real. A história começa em um campo de concentração nazista, repetindo praticamente quadro a quadro a sequência inicial do primeiro “X-Men”. Lá conhecemos o jovem Erik Lensherr, cuja infância de dor contrasta com a vida confortável de Charles Xavier (McAvoy): a diferença entre os dois já estabelece suas escolhas futuras. O filme salta para os anos 60, quando encontramos Charles e Erik já adultos e no meio de uma época conturbada. Atrás de um inimigo comum – o poderoso Sabastian Shaw (Bacon, ótimo) -, os dois irão se unir e criar a primeira classe de X-Men do título. Tudo em uma trama que, a la “Watchmen”, usa a Guerra Fria para mover os personagens (no caso, a Crise dos Mísseis de Cuba, que aconteceu em 1962).
Para que toda essa ambientação funcionasse, foi imprescindível a presença de Vaughn. Já acostumado em dar uma abordagem realista aos super-heróis com “Kick Ass”, o diretor aproveitou o colorido dos anos 60 para abusar de uma paleta de cores primárias que emula a tonalidade das páginas dos quadrinhos. Junto a isso, tomou liberdades com relação ao material original para inserir estes seres exagerados em um típico thriller de espionagem da época, uma aventura que roda o mundo misturando os romances de Tom Clancy com os clássicos “007” de Sean Connery (não por acaso “Moscou contra 007” é de 1963, mesmo ano em que a primeira revista dos mutantes foi lançada).
O resultado é preciso: as cenas de ação não são muitas, mas empolgam e ajudam a história andar. Tudo parece colocado da maneira certa, na hora certa. Há humor, drama, suspense e um espírito juvenil representado pelos jovens mutantes que faz um ótimo contraponto com toda a responsabilidade que pesa sobre os ombros de Xavier e o ódio que é carregado por Erik.
O elenco todo funciona bem, e os fãs vão se divertir ao reconhecer cada novo personagem que surge na tela. Mas “X-Men: Primeira Classe” pertence mesmo ao Professor X e Magneto. É a dinâmica entre estes dois deuses modernos que carrega todo o filme. Não apenas conhecemos as origens de suas convicções, mas também compreendemos os dois lados. Suas diferenças vão se tornando cada vez mais claras até o ponto em que aquela amizade se torna insustentável. É aí que percebemos que “X-Men: Primeira Classe” não é apenas um filme. É uma parábola sobre os nossos dilemas morais.
7 respostas para “X-Men: Primeira Classe”
Nada aver, não teve 3 guerra mundial
foda, o filme e a crítica!!
[…] pelas ruas de Nova York. Passando longe da abordagem mais realista que tem se tornado regra em filmes de super-heróis, o diretor presta tributo a um cinema que inclui o “Superman” de Richard Donner, o “Batman” […]
[…] explodindo para todos os lados. A continuação do quadrinho de Mark Millar perdeu o diretor Mathew Vaughn e, com ele, o […]
[…] da hipnose pode ajudá-lo a recordar. O elenco está bem, e McAvoy, que é o Professor X em “X-Men: Primeira Classe”, tem a oportunidade de fazer um papel oposto: ao contrário do mutante que sabe sempre o que […]
[…] de viagem temporal, juntando a equipe de heróis da trilogia clássica e a equipe apresentada em “X-Men: Primeira Classe” […]
[…] E Lawrence mostrou, com seu curto e impressionante currículo, que tem a intensidade e o carisma necessários para viver Mrs. Taylor (e, para o que valha, pintar o cabelo para ela não é um […]