Piratas do Caribe – Navegando em Águas Misteriosas


Nossa avaliação

[xrr rating=3/5]

Jack Sparrow é o Indiana Jones da atual geração: um personagem icônico que todo mundo conhece e sabe exatamente o que vai fazer em cada situação. E a graça está todinha aí. Assim como Indiana (e James Bond antes dele), Sparrow é um poço de obviedades: já em sua quarta participação cinematográfica, sabemos o que ele vai falar, como vai falar, quando vai fugir e até quem pretende enganar. “Adivinhar” o que ele vai fazer em seguida é parte da diversão. “Navegando em Águas Misteriosas” joga bem com este conhecimento prévio do público, trazendo uma aventura que desde o início brinca com a imagem de seu personagem principal. Quando ouvimos o nome Jack Sparrow, é o rosto de Johnny Depp que esperamos encontrar.

E o ator continua muito confortável no papel, abusando das caras e bocas para ter a cumplicidade do espectador nas situações mais absurdas. E isso é essencial para que o filme funcione ou não para cada um: é preciso “comprar” Sparrow para conseguir entrar na aventura. Confiar nele para te levar pelas águas misteriosas do título. Caso contrário, pode tudo afundar.

Vem comigo...

Isso acontece porque o novo “Piratas do Caribe” sofre de vários males das continuações anteriores: duração além do necessário, personagens demais, ação incessante, história confusa, soluções preguiçosas e um casal romântico sem nenhuma química (saem Orlando Bloom e Keira Knightley e entram um missionário e uma sereia). Se “O Baú da Morte” e “ No Fim do Mundo” não desandaram a ponto de se tornar um “Transformers – A Vingança dos Derrotados” é porque o diretor era Gore Verbinski.

Mas agora sem Verbinski, a franquia ficou a mercê da mão pesada de Rob Marshall, que ganhou mais fama do que merecia por causa de “Chicago”, uma produção mediana que por essas coisas que só Hollywood sabe explicar acabou ganhando o Oscar de melhor filme. A partir daí, o diretor foi ladeira abaixo até aquela bomba em formato de musical chamado “Nine”. “Piratas” é sua tentativa de redenção, e ele tomou todo o cuidado para simplesmente copiar Verbinski, atuando praticamente como um diretor de aluguel (mas ainda assim conseguimos perceber em alguns momentos suas tradicionais imagens de personagens envoltos em um contraluz esfumaçado).

Vocês estão sobrando nesta resenha... assim como no filme

Marshall dirige as cenas de ação de forma burocrática e abusa da trilha sonora épica, como se a cada cinco minutos estivéssemos diante do clímax do filme.  Muitas vezes ele se perde em subtramas dispensáveis, como aquela envolvendo o missionário e também a vingança de Barbossa.

A história principal continua apostando na mistura das aventuras de piratas com alguma lenda fantasiosa. A bem feita fusão entre ação, comédia e sobrenatural que apareceu no primeiro filme (uma despretensiosa adaptação de um brinquedo da Disney) tornou-se uma fórmula para a própria franquia, e aqui é usada na busca pela Fonte da Juventude. Além de Jack Sparrow, estão também atrás dela os reinos da Inglaterra e da Espanha, além do temido pirata Barba Negra. Com ligações com o vodu, ele possui vários poderes que nunca são explicados, mas acabam por funcionar dentro da proposta fantasiosa da produção. No meio de tantos personagens, Penélope Cruz consegue bons momentos com Angelica, uma mulher ardilosa que é também o interesse romântico de Sparrow.

Cheio de altos e baixos, “Piratas do Caribe – Navegando em Águas Misteriosas” deve ser visto como aquilo que é: um passatempo divertido que vai te distrair por pouco mais que duas horas. Poderia ser melhor? Com certeza. Menos personagens, uma trama mais simples e lutas mais inventivas ajudariam bastante. Quem sabe no próximo? Afinal, como mostra a cena pós-créditos, Jack Sparrow deve voltar…


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