[xrr rating=3.5/5]
“Os agentes do destino” é a história de garoto-encontra-garota mais romântica lançada nos cinemas em 2011. Só que bem naquele momento inicial da paixão, em que cada dor de dente é um soneto e cada suspiro é uma estrela a mais no céu, alguém aparece e diz que os dois simplesmente não foram feitos um para o outro e, se ficarem juntos, vão basicamente foder com a vida deles.
E não é qualquer um dizendo: são os tais agentes do título. Sabe aqueles amigos/familiares/intrometidos que ficam urubuzando o começo de um namoro, falando que “nunca vai dar certo”, “vocês são muito diferentes” etc? Pois é. Só que muito mais científicos, bem vestidos e agressivos.
O problema dos agentes (e o maior trunfo do filme) é que David (Damon) e Elise (Blunt) parecem muito feitos um para o outro. Ele é um político promissor e impulsivo, tentando se recuperar após perder uma eleição para o Senado. Ela é uma dançarina talentosa, seduzindo estranhos em banheiros masculinos com seu sotaque inglês.
A estreia na direção de George Nolfi (co-roteirista do último Bourne e de “12 homens e outro segredo”) funciona graças à química de Damon e Blunt. Do primeiro encontro até o fim do longa, é tão impossível para o espectador quanto para eles aceitar que o que os dois protagonistas sentem é errado porque alguém que comanda o destino escreveu assim – um conceito reforçado pelas repetidas tomadas aéreas, como se alguém controlasse tudo “do alto” (recurso bem batido, por sinal).
Enxergado assim, como uma alegoria romântica, “Os agentes do destino’ é um filme simpaticamente envolvente – apesar de algumas falhas, como o pouco desenvolvimento da personagem de Elise, mera(e pobre)mente reativa em certos momentos. Como ficção científica, a adaptação do papa Philip K. Dick é um conceito interessante que promete muito no início. Mas, à medida que o filme passa, torna-se uma mera ferramenta cujas possibilidades são sacrificadas em favor de clichês do melodrama romântico – especialmente na resolução e sua locução absolutamente banal (provavelmente enfiada pelo estúdio na pós-produção).
A ideia toda de “controladores do destino” espalhados pelo mundo e vestidos como personagens de “Mad Men” só não se torna um artifício superficial devido à ótima performance de Anthony Mackie. As expressões contidas do agente vivido pelo ator revelam não um rebelde, mas alguém cansado após ter convivido com aquilo muito mais tempo do que sua aparente juventude sugere.
Nolfi usa o visual do filme, do figurino à arquitetura nova-iorquina à fotografia cinzenta, para criar um ambiente austero contrastado somente pela espontaneidade de David e Elise. Um cenário friamente preparado para condenar a inconseqüência tão humana de dois amantes que preferem viver minutos juntos a anos separados, como se estivesse à espera de uma grande tragédia – uma expectativa a que, infelizmente, o fim do filme não consegue corresponder.