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Leia uma resenha alternativa de “127 horas” aqui.
Dizem que o que nos torna humanos é a presença do polegar opositor. Mas o polegar opositor direito de Aron Ralston (Franco) é massacrado por uma pedra logo no início de “127 horas”, deixando-o preso em uma fenda pelo período do título. E ele continua sendo – bastante – humano. Então qual seria o diferencial que nos separa da Lady Gaga e do Thom Yorke de animais e plantas?
Durante o filme do diretor Danny Boyle, a única pergunta que martelava minha cabeça o tempo todo era “por que esse cara luta tanto para viver? Por que ele não desiste?”. Mesmo encarando algumas das cenas mais aflitivas, angustiantes e claustrofóbicas que o cinema proporcionou nos últimos tempos, eu só conseguia enxergar um cara com uma presença de espírito admirável e imaginar o que (e se algo) me faria agarrar com tamanha determinação à minha vida.
O grande mérito do roteiro de Simon Beaufoy, da direção de Boyle e da montagem de Jon Harris é transformar esse porquê em cinema. Nos rápidos flashbacks de Aron com a família, em seu apartamento ou com a ex-namorada (Poésy), vemos uma vida a ser vivida. Erros a serem remendados. Um jovem arrogante (uma característica MUITO humana) que se dá conta de que ainda tem muito a crescer e melhorar e reparar.
E isso mostra que Aron não lutou para sobreviver. Ele queria Viver. Para mim, eis aí a resposta: o que nos torna humanos é a capacidade de dar sentido às coisas. De encontrar uma estranha satisfação espiritual no atingir o cume de uma montanha. De enxergar beleza em um lago ou um quadro. De se apegar a uma memória e saber que aquela mera lembrança significa que você tem uma família. A nossa capacidade de Viver e não simplesmente sobreviver.
A história de Ralston – e o filme de Danny Boyle – é uma ode a isso. Ao utilizar trechos de comerciais, ícones pop ou montagens rápidas, o diretor não está só criando uma decupagem que torna o longa mais dinâmico (e suportável). Ele está confirmando que, realmente, imagem não é nada, sede é tudo. Aquela iconografia por si não seria nada, mas ao nos darmos conta do sentido que ela tem para nós – e do que ela passa a significar para Aron naquela situação – “127 horas” se torna puro cinema. Uma narrativa mental que supera a mera imagem, a exemplo de “Mar adentro” e “O escafandro e a borboleta”.
Por fim, essa realização técnica impecável ganha ‘alma’ na performance de Franco, honrando o espírito de Aron sem jamais “se desesperar”; e na ótima trilha de A.R. Rahman. Um respiro pop em meio à dor constante da trama, ela é (como a música sempre deveria ser) a ferramenta de Boyle para lembrar, mesmo nas cenas e nos momentos mais difíceis, que ainda vale a pena lutar. Viver.
P.S.: Se eu estivesse preso por uma pedra em uma fenda ´por 5 dias, gostaria de que a voz que cantasse no meu ouvido para eu resistir e sobreviver fosse a da Dido. Mesmo.
6 respostas para “127 horas”
Cara, a voz da Dido é um veludo só. Sempre lamentei o fato de a música ser uma merda.
“imagem não é nada, sede é tudo” realmente, assistindo o filme essa frase vinha a minha cabeça o tempo todo!!!